domingo, 22 de março de 2009

A prisão dos pensamentos e palavras

Por vezes, de uma forma bastante incerta e até despercebida, consigo quebrar a barreira dos pensamentos que me assolam a mente quase ininterruptamente, e entrar em contacto com a percepção de uma realidade bem para além daquela que aprendemos a assumir como tal, e que nos liga a todos espiritualmente, através de diferentes graus de entendimento energético e dimensional, não distinguidos pelos sentidos puramente racionais. São brechas que se abrem na barreira que assumimos inata, mas que, e apesar de ter uma suposta importância extrema enquanto animais competitivos, nos tranca essa porta de acesso à nossa verdadeira natureza. Não quero com isto dizer que esta ilusão existe devido a um mal entendimento da mesma, mas sim que apenas a conjunção de todos os factores disponíveis, levará ao estado de entendimento evolutivo e de todas as atitudes vivêciais que o permitem existir. Apenas com uma prática meditativa continuada, começamos a controlar esse factor de dureza e a penetrar na verdadeira natureza de seres que, como o iceberg, apenas mostram uma pequena porção de uma infinidade grandiosa.
Não bastando esse bombardeio de imagens que apenas reproduzem experiências passadas, e que nada de positivo acrescentam a nós próprios (mantendo-nos desligados do agora, único momento onde tudo acontece), ainda conseguimos prolongar a acção dessas algemas através de sons a que chamamos palavras, e que não são mais do que símbolos sonoros que descrevem apenas uma vertente (de infinitas...) da vida como a visualizamos, ou seja de uma forma totalmente básica, desentendida e sem uma verdadeira abrangência. E nós como assumimos tudo o que nos é ensinado como a mais pura das verdades, habitua-mo-nos a entender tudo na base dos pensamentos e palavras, e perdemos o contacto com o todo, tornando-nos seres facilmente controlados e manipulados. Não é aí que está a nossa verdadeira essência e muito menos a nossa liberdade...

“Outro mestre estava a tomar chá com dois dos seus alunos quando, subitamente, atirou o leque para um deles, dizendo «o que é isto?» o aluno abriu-o e abanou-o. «Não é mau», foi o seu comentário. «Agora tu.», continuou, passando-o ao outro aluno, que imediatamente fechou o leque e coçou o pescoço com ele. Feito isto, abriu-o novamente, colocou um pedaço de bolo sobre ele e ofereceu-o ao mestre. Este foi considerado ainda melhor, porque, quando não existem nomes, o mundo deixa de estar «classificado dentro de limites e fronteiras».”

In “O Caminho do Zen”, de Alan Watts

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