terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Objectores de Consciência

"Vocês não têm inimigos. Gente que provém doutras crenças, culturas ou raças não são os vossos inimigos. Não existe razão de lutar contra eles. Aqueles que vos mandam para a guerra não o fazem pelos vossos próprios interesses mas sim pelos interesses deles próprios. pelo lucro deles, o poder deles, a vantagem deles, o luxo deles.
Porquê é que vocês lutam por eles? Vocês participam no seu lucro?
Vocês participam no poder deles?
Participam no luxo deles?
E contra quem é que vocês lutam?
Os assim chamados inimigos causaram–vos algum sofrimento?
Cassius Clay recusou lutar no Vietname. Disse que os Vietnamitas não lhe tinham feito nada de mal. Ou vocês GI´s: Os Afeganistãos, os Iraquianos, os Iranianos fizeram-vos algo de mal? Ou vocês jovens russos: Os Tchetchenos fizeram-vos algo de mal? E se sim, sabem quanto mal o vosso governo lhes fez? Ou vocês jovens israelitas: Os palestinos fizeram-vos algo de mal? Se sim, sabem o que o vosso governo fez a eles? Quem é quem causou a injustiça que deverá ser combatida por vocês? Sabem quais os poderes aos quais vocês servem quando andam com tanques através dos terrenos ocupados?
Quem no Mundo gera a injustiça para cujo suposto combate os jovens são mandados à guerra? São os vossos próprios governos, os vossos próprios legisladores, são os líderes dos vossos próprios países.Vocês servem o mundo dos bancos, das grandes multinacionais e dos militares se seguirem as suas ordens de guerra. Vocês querem realmente apo­iar o mundo deles?
Se não o quiserem, então ignorem o serviço de guerra. Ignorem-no com tanta persistência e tanto poder que já não vos irão buscar. “Imaginem que houvesse uma guerra e ninguém lá fosse.“ Ninguém no Mundo tem o direito de obrigar outro à guerra.Se eles querem recrutar-vos para o serviço de guerra dêem a volta à lança. Escrevam-lhes onde e quando eles têm de aparecer, com que meias e cuecas e camisas devem, por favor, alinhar. Deixem indubitavelmente claro que, a partir de agora, eles mesmos têm de ir à guerra se quiserem impor os seus interesses sujos. Utilizem as vossas relações, os vossos média, a vossa juventude e o vosso poder para inverter o sentido à lança. Se eles querem a guerra, eles mesmos que se metam nos tanques e nas trincheiras, eles mesmos que andem sobre campos minados e se deixem esfarrapar por armas schrapnell.
Já não haveria guerras na Terra se fossem aqueles que as causam os que tivessem que combater as batalhas e se fossem eles os que experimentassem na própria carne o que significa ser mutilado ou queimado, morrer de fome ou de frio, desmaiar de dores. Guerra é o contrário de qualquer direito humano. Quem ordena à guerra nunca tem razão. Guerra é a geração activa de sofrimentos infinitos: crianças esmagadas e queimadas, corpos esfarrapados, comunidades de aldeias destruídas, membros de famílias perdidos, amigos ou companheiros perdidos, fome, frio, dor e fuga, crueldade contra a população civil – isso é guerra!
Ninguém tem o direito de ir à guerra.
Antes das leis dos dirigentes existe um Bem legislativo mais elevado: “Não mates.” Recusar o serviço militar é o dever moral de todos os seres humanos corajosos. Façam-no em multidões e façam-no até mais ninguém ter vontade de ir à guerra. É uma honra objectar-se ao serviço militar. Mostrem esta honra até ela ser reconhecida por todos. O uniforme é o traje de tolo dos servos. As ordens e a obediência são a lógica de uma cultura que tem medo da liberdade. Quem estiver disposto a participar na guerra, mesmo se for apenas o serviço obrigatório, torna-se culpado como cúmplice. Seguir a obrigação do serviço militar não se ajusta a nenhuma ética. Enquanto formos seres humanos temos de trabalhar com todos os meios para que essa loucura termine. Não poderá existir um mundo humanitário enquanto o serviço militar for aceito como uma obrigação da sociedade.
O inimigo: são sempre os outros. Mas reflictam: Se vocês estivessem do outro lado, vocês próprios seriam os inimigos. Os personagens podem inverter-se. “Recusamo-nos a ser inimigos.” As lágrimas que uma mãe Palestina chora pelo seu filho morto são as mesmas que as lágrimas de uma mãe israelita cujo filho faleceu num atentado de bomba.O guerreiro da nova era é um guerreiro da paz.
É preciso ter a coragem de proteger a vida e de ficar brando quando coisas duras são feitas às nossas co-criaturas. Treinem os vossos corpos, fortaleçam os vossos corações, consolidem o vosso espírito, a fim de impor a força suave contra qualquer resistência. É a força suave que supera qualquer dureza. „Make love, not war.“ Esta foi uma frase profunda dos objectores de consciência norte-americanos nos tempos da guerra do Vietname. Que essa frase entre em todos os corações jovens. E que todos nós encontremos a inteligência e a força de vontade de segui-la para sempre. Em nome do amor. Em nome da protecção de todas as criaturas. Em nome do calor para tudo o que tem pele e pêlo.
Venceremos."
Dieter Duhm

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