quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Grito de Liberdade

A quem se interesse,

O meu nome é Pedro, tenho 36 anos e sou pai de um menino com 3 anos de idade. Antes de tudo, quero mencionar, que o facto que me traz perante estas linhas, não se remete a um qualquer tipo de simples desdizer, mas a uma tentativa de libertação definitiva, de alguma angústia que teima em se manter agarrada ao meu corpo.
Posso ser considerado um típico português, classe média, que nunca passou reais necessidades, e que pautou a sua vida por um recorrer de procedimentos, comuns a todos nós que vivemos dentro de uma sociedade, e cuja educação serve apenas de veículo para uma mais fácil aceitação dos mesmos. Não que ache que isso esteja errado… ou certo! É simplesmente um facto comprovado da vida.
Um dos pilares, que sempre considerei muito importantes para uma boa sustentação individual e familiar, é o trabalho. Empreender, lutar, amar a camisola, para poder vencer. Poder ser alguém dentro do nosso mundo, poder proteger os que nos são próximo das agruras da vida, poder garantir-lhes um projecto de vida e, dar-lhes uma hipótese de sobreviver. Comprar através da labuta e abstracção, o futuro dos outros. Podemos sempre comentar, que ninguém nos obriga a tomar decisões e que estas apenas dependem de cada um… mas o facto é que, para a maioria dos mortais, a teia de regras em que vivemos dificilmente nos deixam outras alternativas, tanto pela ilusão criada, como pela falta de condições para seguir outros caminhos. Mas a malta até aceita tudo isto de “peito feito”, desde que vá havendo para as coisas mais triviais. Vamos andando, tipo o burrinho atrás da cenoura ou o cão atrás da cauda!!
Mas chega daí um dia, em que o raio da realidade nos bate à porta. Sem grandes alaridos, entra-nos pela casa dentro e começa a tomar conta do nosso dia a dia… Devagarinho, e da pior maneira, começamos a ter consciência, que afinal aquela almofada virtual que nos colocaram nas costas, para nos manter mais confortáveis, é mais dura do que parecia anteriormente, e aquela fundação feita com tanto suor, era apenas de lama e água. E é aí, quando o topo começa a ruir e tudo começa a ser questionável, que sentimos o sabor a fel, da nossa estupidez e falta de alcance.
Mas como podemos nós imaginar a abrangência de tanto egoísmo, narcisismo e pura ganância, que corrói os nossos líderes e gestores, a nível global? Como se constroem impérios mundiais, na base de um grande NADA? Como se brinca com a vida de cada um de nós, e depois nos deixam ao abandono, enquanto os grandes responsáveis continuam impunes e despreocupados com o seu futuro? Iludem-nos com promessas envenenadas e depois simplesmente tiram-nos o tapete e deixam a base mais frágil, à mercê da intempérie, como justificativo para uma saúde financeira das mesmas instituições que não souberam portar-se como verdadeiros veículos para o nosso bem-estar geral.
Por vezes sinto-me quase um ladrão, um aldrabão, que tenta perante as instituições estatais e financeiras, arranjar um meio de me manter a mim e a todos os que trabalham comigo, à tona da água. Como se andasse a pedir algo que não me pertence e que me foi retirado por justa causa, por um sistema que me culpabiliza e pune da forma mais brutal, por não ter sabido gerir as empresas por que sou responsável. Insanidade mental !!!!!!! Eu deixei de viver a minha vida, por troco da sustentabilidade de um tecido empresarial que alimenta o mundo, e por meros conceitos de qualidade de vida que me foram impingidos… Descartei os únicos valores que significam algo, por um objectivo que julguei comum, mas que afinal era só meu. Nunca retirei mais do que devia, vivo num apartamento médio, nunca fiz grandes viagens, nunca comprei grandes luxos, nunca descapitalizei as empresas para me auto-promover, como fazem todos os “grandes gestores” e que depois ainda recebem indemnizações pelo mau trabalho, sem quaisquer responsabilização pelo mesmo. E mais gravoso ainda é, o facto de usarem o nosso dinheiro para tapar buracos deixados por esses “senhores”, nas tais instituições que me consideram um criminoso, quando lhes recorro em auxílio. Já pensaram em perguntar-me se estou de acordo com isso? Quando me “surripiam” dinheiro das contas, debaixo dos mais estapafúrdios justificativos, também nunca me dão oportunidade de contrapor. Leva-me a concluir que a nossa opinião sobre estas coisas, não interessa a ninguém, pela nossa transparência, mas também pelo facto de o nosso único papel ser o de dar ao cabedal, para alimentar a MÁQUINA TRITURADORA! Tantos impostos que pagamos para um ESTADO, que depois nos dá muito pouco e ainda por cima nos massacra, quando nestas alturas lhe pedimos um pouco mais de abertura e menos rigidez nas cobranças feitas, ao que nos responde com um enterrar da biqueira da sua bota nos corpos que já jazem moribundos. Nem sequer respeitam as dívidas que têm aos privados!!!!!!!!! E depois é ver a classe política em duelos de esgrima, mais interessados em não estragarem os trajes que exibem ou de perderem a pose que apresentam, do que tentarem resolver o que quer que seja, relacionado com a nossa vida banal, de meros fantoches presos aos fios que nos dão vida.
E assim se vão passando os dias, hora após hora, minuto após minuto, tentando navegar sem meter água.
Mas quero deixar muito claro, que no final de cada dia ainda consigo agradecer pela oportunidade que me está a ser dada pela vida, de aprender a não cometer os mesmos erros no futuro, e só espero ter forças e coragem suficiente para nunca mais perder o meu tempo com objectivos ocos, e poder me dedicar a tirar prazer real da vida, e a um projecto que realmente deixe no meu filho, uma herança de moralidade, solidariedade e amor, por nós e pelos outros seres deste planeta.

Paz

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