segunda-feira, 27 de julho de 2009

Consciência

"Isto aconteceu:
Havia um grande mestre, um mestre budista,Nagarjuna. Um ladrão foi ter com ele. O ladrão ficara fascinado com o mestre, pois nunca tinha visto uma pessoa tão bela, com uma graça tão infinita. Ele perguntou a Nagarjuna: Existe alguma possibilidade de eu também crescer? Mas há uma coisa que tenho que lhe dizer: sou um ladrão. E outra coisa: não posso abandonar a profissão, pelo que, por favor, não a torne uma condição. Faço qualquer coisa que disser, mas eu não consigo deixar de ser ladrão. É que já tentei muitas vezes - nunca resulta, por isso abri o jogo. Aceitei o meu destino, que vou ser um ladrão e permanecer um ladrão, pelo que não falemos disso. Que isso fique bem claro logo no principio.
Nagarjuna retorquiu: Por que tens medo? Quem é que vai falar sobre o facto de seres ladrão?
O ladrão disse: Mas sempre que eu vou ter com um monge, um padre ou um santo, eles dizem-me: Primeiro deixa de roubar.
Nagarjuna riu-se e perguntou: Então deves ter ido falar com ladrões, caso contrário, porquê? Qual é o motivo do seu interesse? Eu não estou interessado!
O ladrão ficou muito contente e disse: Então está bem. Parece-me que agora posso tornar-me um discípulo. Você é o mestre certo.
Nagarjuna aceitou-o e informou-o: Agora podes ir e fazer aquilo que te apetecer. Tens de respeitar apenas uma condição: estar ciente! Vai, assalta casas, entra, tira coisas, rouba; faz aquilo que te apetecer, isso não me interessa, não sou ladrão - mas fá-lo com total consciência.
Só que o ladrão não se apercebeu da armadilha em que estava a cair. Assentiu: Então está tudo certo. Tentarei. Três semanas depois, ele regressou e disse: Você é matreiro, pois se eu me torno ciente não consigo roubar. Se eu roubo a consciência desaparece. Estou num dilema.
Nagarjuna respondeu: Não quero mais conversas sobre o facto de seres ladrão e roubares. Não estou interessado; não sou ladrão. Agora, tu decides! Se queres a consciência, então decide. Se não a queres, então decide também.
O homem ripostou: Mas agora é difícil. Já experimentei um pouco e é tão bela - deixarei qualquer coisa, aquilo que você disser. Ainda na outra noite, pela primeira vez consegui entrar no palácio do rei. Abri o tesouro. Poderia ter-me tornado o homem mais rico do mundo - mas você seguia-me e tinha de estar ciente. Quando me tornei ciente, de repente - fiquei sem motivação, sem desejo. Quando me tornei ciente, os diamantes pareciam pedras, pedras vulgares. Quando perdi a consciência, o tesouro estava lá. E eu esperei e fiz isto muitas vezes. Ter-me-ia tornado ciente e fiquei como um buda, sem sequer poder tocar nele, porque tudo parecia ridículo, estúpido - somente pedras, o que estou eu a fazer? Estou a perder-me por causa de pedras? Mas então, eu, perderei a consciência, elas tornar-se-ão de novo belas, a ilusão total. E finalmente, decidi que elas não valiam a pena."

OSHO, em "Consciência: a chave para viver em equilíbrio"

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