sábado, 22 de agosto de 2009

A Sala da Aprendizagem (Parábola)

Era uma vez um Ser Humano a quem chamaremos Wo. O seu género não é importante para a história, mas,
dado que vocês não dispõem de uma palavra adequada para designar uma pessoa do género neutro, vamos
chamar-lhe Wo Humano, para poder referenciar, igualmente, todos os homens e todas as mulheres. Não obstante,
e simplesmente por motivos de tradução, diremos que Wo é um «ele».
Como todos os Humanos da sua cultura, Wo vivia numa casa, mas não conseguia preocupar-se com outra
coisa senão com a casa em que vivia, pois era exclusivamente sua. Era uma casa muito bonita, e ele fazia
questão de a manter assim.
Wo levava uma vida excelente. Na cultura onde vivia, nunca havia escassez de comida, pois reinava a
abundância. Também nunca tinha frio, pois estava sempre protegido. À medida que foi crescendo, aprendeu
muitas coisas sobre ele mesmo. Aprendeu acerca daquilo que o fazia feliz, e encontrou objectos que podia
pendurar na parede e admirar para se sentir feliz. Também aprendeu a conhecer as coisas que o entristeciam,
as quais pendurava na parede, quando desejava sentir-se triste. Conheceu, ainda, tudo o que o irritava,
e descobriu o que podia contemplar, sempre que pretendia irritar-se.
Tal como acontecia com os outros Humanos, Wo tinha imensos medos. Ainda que dispusesse dos elementos
básicos à vida, receava os outros Seres Humanos e certas situações. Tinha medo daquelas pessoas e situações
que pudessem gerar transformações na sua vida. Sentia-se seguro com a sua existência tal como estava, porque
tinha trabalhado duramente nesse sentido. Portanto, tinha medo das situações que, aparentemente,
pudessem afectar a sua estabilidade, e receava quem controlava essas situações.
De outros Humanos, aprendeu coisas sobre Deus. Disseram-lhe que um Ser Humano era uma coisa muito
pequena. E Wo acreditou que era assim. Por fim, olhando à sua volta, verificou que havia milhões de Seres
Humanos, enquanto que, Deus, só havia um. Disseram-lhe que Deus era tudo e ele não era nada; mas esse
Deus, no seu Amor infinito, responderia às suas orações, desde que rezasse com intensidade e fosse íntegro,
ao longo da sua vida.
Muito bem.
Então, Wo, que era uma pessoa espiritual, rezou a Deus para que pessoas e as situações de que tinha
medo não provocassem mudanças, para que a sua casa pudesse permanecer tal como estava, sem qualquer
alteração. E Deus respondeu ao seu pedido!
Wo temia o passado, porque, de algum modo, lhe recordava coisas desagradáveis. Assim, rezou a pedir
que Deus bloqueasse essas coisas na sua memória. E Deus respondeu ao seu pedido!
Wo também temia o futuro, pois continha o potencial para a mudança, algo que era obscuro, incerto e
não lhe podia ser revelado. Assim, rezou a pedir a Deus que o futuro não desencadeasse nenhuma mudança
na sua casa. E Deus respondeu ao seu pedido!
Wo nunca se aventurava em espaços muito longe da sua casa, pois tudo o que precisava, como Ser Humano,
encontrava-se na sua sala. Quando os seus amigos vinham visitá-lo, essa era a única dependência que lhes
mostrava, e sentia-se satisfeito com isso.
Wo apercebeu-se, pela primeira vez, que havia movimento numa outra zona da sua casa quando tinha
aproximadamente 26 anos. Apanhou um valente susto e pediu imediatamente a Deus para que aquilo desaparecesse,
pois aquela presença dizia-lhe que não estava sozinho em casa... o que era uma situação inaceitável.
Deus respondeu ao seu pedido, o movimento parou... e Wo não voltou a ter medo daquilo.
Quando tinha 34 anos, aquele movimento regressou, e Wo novamente rezou a pedir que a coisa parasse,
pois fazia-lhe muito medo. O movimento parou mas não antes de se aperceber que algo lhe tinha passado
completamente despercebido: A sua sala, tinha outra porta! E, sobre ela, descobriu uma estranha inscrição.
Wo começou logo a ter medo do que isso poderia implicar.
Wo questionou os líderes religiosos acerca dessa estranha porta e do movimento que o perturbava, e eles
advertiram-no para não se aproximar dela. Segundo lhe disseram, aquela porta conduzia à morte, pelo que
decerto morreria se a sua curiosidade se transformasse em acção. E acrescentaram que a inscrição era maligna
e que não deveria voltar a olhar para ela. Em vez disso, incentivaram-no a participar num ritual, conduzido
por eles, e garantiram-lhe que passaria a sentir-se bem se lhes entregasse o seu talento e as suas economias.
Quando Wo tinha 42 anos, o tal movimento voltou a manifestar-se. Ainda que, desta vez não tenha sentido
tanto medo, pediu a Deus que aquilo parasse... e assim aconteceu. Deus era bom para com ele ao responder
de uma forma tão rápida e eficiente.
Wo sentiu-se confiante com os resultados das suas orações.
Quando fez 50 anos, adoeceu e morreu... ainda que, quando tal ocorreu, não se tenha apercebido que desencarnara.
Então, novamente se deu conta do tal movimento, e novamente rezou para que parasse. Mas, em vez disso, o movimento tornou-se mais claro... e aproximou-se ainda mais. Aterrorizado, Wo levantou-se da
cama... e descobriu que o seu corpo terreno permanecia deitado, e que, agora, estava na forma de espírito.
À medida que o tal movimento se ia aproximando ainda mais dele, Wo começou a reconhecê-lo. E, em vez de
se sentir assustado, sentiu curiosidade. O corpo do seu espírito também lhe pareceu natural.
Wo apercebeu-se, então, que o movimento era produzido pelas entidades que se tinham aproximado dele.
Ao chegarem perto, as suas figuras brancas brilhavam como se tivessem luz própria, que emanava do seu
interior. Finalmente, pararam junto de Wo, que ficou assombrado ante a sua imponência. Mas não sentia
medo.
Uma das entidades falou e disse-lhe: «Vem, querido, é tempo de partir».
A sua voz estava cheia de suavidade e de familiaridade. E, sem a menor hesitação Wo partiu, acompanhado
por aquelas figuras.
Começava a recordar como tudo aquilo lhe era familiar. E, ao olhar para trás, viu o seu cadáver aparentemente
a dormir, sobre a cama. Achou-se cheio de um sentimento extraordinário, que não podia explicar.
Uma das entidades tomou-lhe a mão e conduziu-o directamente para a porta com a estranha inscrição. A
porta abriu-se e os três passaram por ela.
Wo, encontrou-se num largo corredor, com portas que davam para salas, situadas de ambos os lados. Wo
pensou para si mesmo: «Esta casa é muito maior do que tinha imaginado». E reparou na primeira porta, que
continha uma inscrição estranha.
Então, perguntou a uma das entidades brancas: «O que há por detrás dessa porta, situada à direita?».
Sem dizer uma só palavra, a figura branca abriu essa porta e convidou-o a entrar.
Wo entrou, e sentiu-se surpreendido, pois, desde o chão até ao tecto, estavam amontoadas muito mais riquezas
do que aquelas que ele alguma vez poderia ter imaginado, nas suas fantasias mais descabeladas. Havia
barras de ouro, pérolas e diamantes. Num canto, havia tantos rubis e pedras preciosas que davam para
encher todo um reino.
Olhando para os seus companheiros brancos e luminosos, perguntou: «O que é este lugar?»
A figura branca, mais alta, respondeu: «Esta é a tua sala da abundância, se tivesses desejado entrar nela.
Pertence-te, inclusivamente agora, e permanecerá aqui, para ti, no futuro».
Wo ficou estarrecido perante esta informação.
Ao regressar ao corredor, Wo perguntou o que havia na primeira sala da esquerda, que estava fechada por
outra porta com inscrições estranhas, as quais, de alguma forma, começavam a fazer sentido para ele.
Quando a figura branca abriu a porta, disse: «Esta é a tua sala de paz, se tivesses desejado utilizá-la». Wo
entrou, com os seus amigos, e logo se viu envolvido por uma espessa névoa branca, uma névoa que parecia
estar viva, pois imediatamente lhe envolveu o corpo. Inalou-a para o seu interior e sentiu-se tomado por forte
sensação de bem-estar, e soube que nunca mais voltaria a ter medo. E sentiu uma paz como nunca tinha
experimentado.
Bem gostaria de ter ficado ali. Mas os seus companheiros indicaram-lhe que tinha que continuar, pelo que
regressaram ao longo corredor.
Mas havia outra sala à esquerda. «O que há nesta sala?»; perguntou Wo.
«É um lugar onde só tu podes entrar», respondeu a figura branca, mais pequena.
Então, Wo entrou e encontrou-se imediatamente cheio de luz dourada. Sim, ele sabia do que se tratava.
Era a sua própria essência, a sua Iluminação, o seu conhecimento do passado e do futuro.
Aquele espaço era o armazém de Espirito e de Amor de Wo!
Chorou de alegria e permaneceu ali, absorvendo a verdade e a compreensão, durante um prolongado período
de tempo. Os seus companheiros, que não tinham entrado naquela sala, foram pacientes.
Finalmente, quando voltou ao corredor, verificou que tinha mudado. Olhou para os seus companheiros e
reconheceu-os. «Vocês são os guias», afirmou, com naturalidade.
«Não. Somos os teus guias», disse o mais alto dos dois. «Temos estado aqui desde o teu nascimento, somente
por uma razão: para te amar e para te ajudar a veres a outra porta da tua sala. Tiveste medo, pediste
que nos retirássemos, e nós assim fizemos. Estamos ao teu serviço em Amor e louvamos a tua encarnação de
expressão.»
Wo não reconheceu nenhuma repreensão naquelas palavras, e deu-se conta de que eles não estavam a
julgá-lo, mas a louvá-lo. E sentiu o seu Amor.
Wo olhou para as portas que havia naquele corredor e conseguiu ler o que estava escrito. Enquanto foi andando
encontrou portas dizendo «Contrato de cura», e outra que dizia «Alegria». Viu muito mais do que poderia
ter desejado, pois ao longo do corredor havia imensas portas com nomes de crianças não nascidas e,
inclusivamente, uma delas tinha escrito «Líder mundial».
Wo começou a dar-se conta de tudo o que tinha perdido. Então, como se os guias tivessem lido o seu pensamento,
disseram: «Não reproves nada ao teu espírito, pois tal atitude é imprópria e não serve à tua magnificência.
»
Sem compreender estas palavras, olhou para trás, ao longo do corredor, até ao ponto por onde tinha entrado,
e viu a inscrição na porta, aquela inscrição que, originalmente, tanto o havia assustado. Essa inscrição
correspondia a um nome – o seu próprio nome! – o seu verdadeiro nome.31
Agora, sim, compreendia tudo, totalmente.
Lembrou-se do protocolo daquele lugar, pois agora – que já não era Wo - era capaz de se recordar. Assim,
despediu-se dos seus guias e agradeceu-lhes a sua fidelidade. Permaneceu durante muito tempo contemplando-
os e amando-os. E, logo se voltou para caminhar em direcção à luz, no final do corredor.
Sim, já tinha estado aqui. Sabia o que o esperava na sua breve visita, de três dias, à Gruta da Criação,
para recolher a sua própria essência, e logo passar ao Salão de honra e da Celebração, onde era esperado por
todos aqueles que o amavam ternamente, inclusive aqueles que tinha amado e perdido, enquanto estivera na
Terra.
Sabia onde tinha estado e para onde, agora, se dirigia.
Estava de Regresso a Casa.

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